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Gustavo Assi

Senhor, obrigado pelo robô

18/05/2023

Nesta semana, minha esposa foi submetida a uma cirurgia. Tudo correu bem, e ela já se recupera em casa. Ao conversar com o médico (enquanto víamos algumas das fotos), fiquei impressionado com a técnica minimamente invasiva da laparoscopia. Através de quatro orifícios, no abdome inflado com gás carbônico, os cirurgiões manobram câmeras, iluminação e instrumentos com precisão. Para um engenheiro, essa interação entre tecnologia e saúde é fascinante.

Por outro lado, nossa experiência da relação entre fé e saúde é examinada quando intercedemos e a agradecemos por um procedimento médico em alguém tão próximo. Talvez você esteja acostumado a orar pela equipe clínica quando alguém vai fazer uma cirurgia. Normalmente pedimos a Deus que, na sua providência, abençoe e use os médicos e enfermeiros como seus “instrumentos” para o bem de quem amamos. Neste momento de fragilidade, declaramos nossa dependência e confiança em Deus e aprendemos a descansar nele em oração.

Hoje, gostaria de juntar as três coisas: fé, saúde e tecnologia. Nesta coluna, ofereço um convite para refletirmos sobre um aspecto que é tão importante para o sucesso de uma cirurgia quanto as pessoas envolvidas: os próprios instrumentos. Enquanto Lilian estava na cirurgia, agradecia a Deus também pela existência e utilidade do tal laparoscópio.

Mas deixe-me iniciar por uma outra situação que tenho certeza de que você vivenciou: a pandemia. Porém, antes de chegar na covid-19, gostaria de começar falando de outra pandemia…

Normalmente pedimos a Deus que, na sua providência, abençoe e use os médicos e enfermeiros como seus “instrumentos” para o bem de quem amamos. Neste momento de fragilidade, declaramos nossa dependência e confiança em Deus e aprendemos a descansar nele em oração.

Quando morávamos em Londres, o primeiro lugar que gostava de levar nossos visitantes era o Museu de Londres (fica bem no centro da antiga cidade e vizinho à igreja onde servíamos). Uma boa parte deste museu conta a história de como um surto da Peste Bubônica arrasou a cidade em 1665. Há muitas gravuras da época retratando o que as pessoas faziam para combater a peste, mas me chamava à atenção as tecnologias empregadas na época pelos médicos para tentar vencer a praga. Talvez você já tenha visto uma ilustração de um assustador traje preto, com um chapéu e uma máscara com um longo nariz de couro que mais parecia o bico de um corvo. Dentro desse nariz havia uma estopa embebida em essências de ervas aromáticas ou vinagre, numa tentativa de filtrar ou aniquilar o que estivesse causando o mal. O traje era imediatamente associado à morte.

Isso era praticamente tudo o que podiam fazer para tratar dos doentes. Não havia outros instrumentos eficazes contra a peste, que se espalhava pelo contato social e pelas pulgas. A mobilidade era baixíssima comparada à circulação das pessoas hoje. Mesmo assim, este surto da peste matou cerca de 100 mil pessoas em Londres em 18 meses, um quarto da população da cidade na época. Contudo, a segunda onda da pandemia da Peste Bubônica durou 400 anos, matando por volta de 200 milhões de pessoas, metade da população da Eurásia no período.

Pense agora na pandemia que passamos nos últimos anos. No início de maio ouvi que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou oficialmente o fim da “emergência de saúde pública de importância internacional referente à covid-19”. Até onde as estatísticas podem nos informar, o que começou em março de 2020 terminou em maio de 2023. Na nossa época, o tempo corre mais depressa; não suportamos que problemas fiquem sem solução por muito tempo.

Para nossa geração, que experimentou a rotina do confinamento e do afastamento social, três anos podem ter parecido uma década. Para nossas crianças, uma eternidade. Nesta nossa expectativa de resolver tudo tão rápido, talvez não tenhamos nos dado conta que a pandemia, de fato, durou pouco tempo. E não quero minimizar as perdas. Mas já parou para pensar que um vírus respiratório veio, fez estrago e “foi resolvido” em 38 meses tendo o mundo 7,8 bilhões de pessoas que praticamente não pararam de viajar loucamente entre todos os continentes, todos os dias?

Evidentemente houve muito conhecimento científico aplicado. Também muito se aprendeu durante a pandemia. Mas parte do sucesso na sua contenção (e uma boa parte!) se deveu às coisas que conseguimos fazer, às tecnologias produzidas e implementadas no período: a máscara, o álcool em gel, a videoconferência, os aplicativos de e-commerce, os filtros de ar, os exames, os respiradores, as vacinas… Todas estas tecnologias foram utilizadas e aliviaram o sofrimento, diminuíram dores, reduziram mortes, encurtaram o tempo da pandemia.

Houve um dia de janeiro de 2021 que ficará guardado em minha memória. Meu pai estava entubado havia quase 10 dias, no pior quadro clínico da doença. Todas as suas funções estavam sendo monitoradas numa telinha que piscava e apitava freneticamente. Naquele momento de oração, já não sabia mais o que pedir ao Senhor. Já havia intercedido pela vida e trabalho de todos os médicos e enfermeiros que passavam por ali. Foi quando comecei a orar agradecendo pelo oxímetro, pela telinha, pelo aparelho de raios-x, pelo acesso intravenoso, pelos tubos, pelo respirador… “Senhor, obrigado pelo robô que mantém meu pai vivo e respirando”, foi minha oração sincera.

Já havia intercedido pela vida e trabalho de todos os médicos e enfermeiros que passavam por ali. Foi quando comecei a orar agradecendo pelo oxímetro, pela telinha, pelo aparelho de raios-x, pelo acesso intravenoso, pelos tubos, pelo respirador... “Senhor, obrigado pelo robô que mantém meu pai vivo e respirando”, foi minha oração sincera.

Algumas semanas depois estávamos agradecendo o seu retorno para casa. Depois de alguns meses, a chegada das vacinas. Olhando para trás, agradecemos por muitos profissionais da saúde que atuaram na linha de frente. Mas podemos agradecer também por tantos instrumentos, medicamentos, máquinas, robôs, algoritmos, hospitais, protocolos, treinamentos e inúmeros outros artefatos que Deus, em sua providência, nos permitiu desenvolver. Agradecemos pelos engenheiros, técnicos, fabricantes e tantos outros envolvidos com a tecnologia que ajudou a salvar vidas.

Creio que, quando desenvolvemos boa tecnologia, diante da face de Deus, tecnologia que serve às pessoas e promove a saúde, estamos participando do ministério de reconciliação de um mundo caído. Produzindo tecnologia à serviço da saúde, servimos à Deus. Quando desenvolvemos a natureza nessa direção, somos cocriadores no mundo criado por Deus. E nisso Ele é glorificado!

Produzindo tecnologia à serviço da saúde, servimos à Deus. Quando desenvolvemos a natureza nessa direção, somos cocriadores no mundo criado por Deus. E nisso Ele é glorificado!

Se você é um profissional da saúde, muito obrigado pelo seu serviço. Se você atua na área da tecnologia em saúde, também obrigado pelo seu serviço. Façamos bom uso da tecnologia na saúde e agradeçamos juntos a Deus pelo laparoscópico, pelas vacinas e até pelos robôs que ajudam a salvar vidas.

 

 

Os conteúdos das publicações da revista digital Unus Mundus são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a visão da Academia ABC².

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